quarta-feira, 5 de setembro de 2012

HISTÓRIAS DE LAGUNA


Meu Pai Ayrton é natural da belíssima cidade de LAGUNA- SC, vejam as praias na imagem, e como toda cidade do interior tem suas histórias e estórias. Essa que vou relatar é verídica e tem um fundo social muito importante pois conseguiu integrar uma raça na comunidade lagunense graças a perspicácia e astúcia mental de meu tio avô JOSÉ MENDONÇA. A história, que virou folclore na cidade correu mais ou mesmo assim, segundo a "boca do povo":
Como Laguna era um porto sempre usava o trabalho de estivadores, carregadores e "carrinheiros" que transportavam até o comércio local os produtos vindo pelas pequenas embarcações que ali aportavam. Essa população, na sua grande maioria, era constituída de pessoas da raça negra, essa valorosa gente, que além de franca aptidão para o trabalho, ainda possui uma alma doce e musical. Embalada nesta sintonia reinante, naquele ambiente dos trapiches,  resolveram os líderes negros do local fundar um clube social para, aos fins de semana, depois do trabalho, promoverem bailes, saraus, enfim um local de reunião social para o desfrute e prazer de gente tão laboriosa. Eles não tem medo do trabalho, nem hora para isso, e assim sendo construíram com as próprias mãos, em um terreno doado pela prefeitura um clube. Tudo pronto, novo, prédio de alvenaria e tijolos, pintado de azul cor da matriarca IEMANJÁ que emprestou seu nome para a ASSOCIAÇÃO RECREATIVA IEMANJÁ. 
Faltava tão somente marcar o dia da inauguração e também um Mestre de cerimônias. Os trabalhadores do porto não tiveram muito o que pensar, e logo de cara escolheram seu José Mendonça, irmão do meu avô João Mendonça, uma vez que seu José era uma pessoa muito conceituada no local pelo seu espírito humanitário e colaborativo. No dia da inauguração, no salão principal  onde se realizariam os bailes, foi montada uma mesa de cerimônia e lá, no centro da mesa o Tio José, bem falante, trocando abraços e distribuindo sorrisos para todos. 
Chegou a hora do discurso de inauguração que ia ser feito, é óbvio pelo Sr. José Mendonça, por sinal, o único representante da raça branca dentro da Associação. Depois de silenciadas as palmas e ovações começou o Sr. José seu discurso:
"Boa Noite, sejam todos bem-vindos, estou muito satisfeito e orgulhoso de estar aqui podendo falar para vocês. Vejo pretos a minha frente, pretos de ambos os lados e pretos às minhas costas (neste ponto os ouvintes começaram a sentir-se incomodados, pois apesar de serem uma parcela importante na economia local com seu árduo trabalho ainda eram, até aquele dia, muito discriminados) porém é muito bom que se diga QUE PRETOS SÃO AS ASAS DA GRAÚNA, PRETOS SÃO OS OLHOS DA VIRGEM MARIA MÃE DE JESUS, NEGROS SÃO OS PÉS E AS MÃOS QUE TANTO LABUTAM PELO PROGRESSO DE NOSSA TERRA (nesse ponto os ouvintes abriram num amplo e irrestrito sorriso e o ambiente foi invadido pelo espoucar de palmas e ovações) Terminava aqui o discurso e o Sr. José saiu carregado nos braços dos integrantes do clube, sendo, a partir daquela data um dos poucos brancos que frequentava regularmente o lugar.
Essa estória, que faz parte da história da minha vida e da vida de meu pai tem um significado muito forte pois  conseguiu quebrar esse odioso e ignorante preconceito que as pessoas possuem. Meu pai me contava sempre isto, principalmente quando se referia ao fato de eu estar vivo por ter uma ama de leite negra que me amamentou e conseguiu plantar no meu coração esse gosto por jazz, essa crença em IEMANJÁ e outras coisinhas mais........

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